As Artistas

Palavra de Mulher

O grito há tanto represado da mulher é repensado. Pesado. Retesado e por ela mesma disparado: mais que palavra, palavra de mulher se faz gesto, arco em riste. Os fios na tecelagem que atravessam a urdidura de viver a diferença constroem outro modo de vida a partir de referenciais, de imaginário popular tomado pelas culturas populares dos povos negro e indígena, particularmente de suas mulheres, orgulhosas e herdeiras que são de memória afetiva, de gostos, saberes e sabores tanto á beira de um fogão quanto de amamentar e dar vigor preto a claros filhos de outras.

Da palavra dada não se tira uma vírgula. Confia e traz confiança. É tempo de falar por si. E falar com língua, corpo, mãos. Profundo como areia, a mulher que fala e registra sua palavra bordada com fios do algodão que outra mulher plantou ou da lã de ovelha que sua filha tangeu tem mais valor. Falar por si mesma, sem intermediários, é uma ousada ambição que se constrói ponto a ponto. quadro a quadro. E o tempo dá o arremate: Tecer a poesia traz o diferencial que ansiamos nas falas repetidas de canto a canto da cidade. O novo aqui se faz antigo; na palavra bordada, o de novo é o jeito, os modos.

A palavra, sabemos, como o  vinho, feito queijo minas, quanto mais curada mais se aprova .

Não se trata de mais um projeto de eventos; não é pra festa, apesar de haver celebração. Celebramos, inclusive, a vida, nas rodas da lua cheia; na ciranda que envolve as crianças e os anciãos. mas, é o marco de uma reunião de almas e espíritos eternos tecendo sonho de resistência e luta por sua memória seu prover e seu porvir. Com esta proposta projetamos um sonho de construção de histórias e relações a muito tempo alimentadas.